Rio Branco, AC, 14 de agosto de 2025 02:28
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Programa Nuclear do Irã: Entenda a história, controvérsias e a reação internacional

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O programa nuclear do Irã, alvo de controvérsia há mais de três décadas, voltou ao centro das atenções após intensas operações militares israelenses contra instalações estratégicas no país. Ao mesmo tempo, renova-se o debate sobre o duplo padrão da comunidade internacional frente aos programas nucleares de Teerã e de Israel.

O embrião do programa nuclear iraniano remonta à era do Xá Reza Pahlavi, quando o país aderiu ao programa “Atoms for Peace” dos EUA em 1957, assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e iniciou a construção de seu primeiro reator em Teerã  . O programa ganhou respaldo técnico da Alemanha e dos EUA nos anos 1970, prevendo a construção de uma série de usinas civis de energia nuclear.

A Revolução Islâmica de 1979 interrompeu o programa, com o aiatolá Khomeini emitindo uma fatwâ que proibia armas nucleares, em conformidade com o Islã  . Em 1989, após a morte de Khomeini, Ali Khamenei retomou o projeto nuclear, mantendo a orientação de uso pacífico, como reforçada por nova fatwâ em 2005  .

Analistas afirmam que o programa é impulsionado originalmente por necessidades energéticas e industriais do Irã, não por ambições bélicas, configurando um símbolo de soberania nacional diante de poderes ocidentais.

Em 2010, a diplomacia liderada por Brasil e Turquia articulou um acordo para transferência de 1,2 tonelada de urânio pouco enriquecido do Irã para a Turquia, sob supervisão da AIEA, em troca de combustível para pesquisa médica  . O acordo, apoiado pelo então presidente Lula e seu chanceler Celso Amorim, foi revertido em 2012, quando os EUA, sob Barack Obama, recuaram, mantendo sanções ao Irã.

O JCPOA (Plano de Ação Conjunto Global) foi firmado em 2015 por Irã e P5+1, limitando o enriquecimento a níveis civis (3,67 %) e impondo rigorosas inspeções da AIEA. Em 2018, entretanto, os EUA se retiraram unilateralmente, e o Irã retomou o enriquecimento, incluindo níveis elevados (até 60 %).

Desde junho de 2025, Israel vem atacando instalações como Natanz, Isfahán e Fordow, com o objetivo declarado de frear possíveis avanços iranianos em direção a armas nucleares  . Enquanto Tel Aviv argumenta que Teerã se aproxima de capacidade militar com o enriquecimento a 60 %, a AIEA e agências de inteligência americanas afirmam que não há evidência de retoma planejada de um programa de armas.

Israel, por sua vez, nunca assinou o TNP e é amplamente reconhecido como potência nuclear oculta, sem qualquer supervisão internacional. Já o Irã, signatário desde os anos 1970, sempre permitiu inspeções, gerando críticas pelo evidente desequilíbrio de cobranças.

Especialistas afirmam que a ofensiva israelense visa enfraquecer politicamente o Irã, consolidando a hegemonia de Tel Aviv no Oriente Médio. A acusação de que Teerã violou tratados serviu como justificativa para uso de força, num contexto onde interesses estratégicos e militares se sobrepõem aos critérios técnicos.

O programa nuclear iraniano tem raízes civis profundas e reflete uma trajetória marcada por apoio ocidental inicial, rupturas revolucionárias e retomadas sob supervisão internacional. A crise atual resulta de fatores políticos, militares e diplomáticos, alimentados por tensões históricas entre Irã, EUA e Israel. O contraste claro entre a postura internacional frente a programas nucleares de Teerã e de Tel Aviv evidencia um tratamento desigual que compromete a credibilidade do regime global de não proliferação.